ATA DA PRIMEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA DÉCIMA SESSÃO LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 22.01.1991.

 


Aos vinte e dois dias do mês de janeiro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Primeira Sessão Ordinária da Décima Sessão Legislativa Extraordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Airto Ferronato, Antonio Hohlfeldt, Artur Zanella, Clóvis Ilgenfritz, Cyro Martini, Décio Schauren, Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Flávio Koutzii, Gert Schinke, Giovani Gregol, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, João Motta, José Alvarenga, Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Luiz Braz, Omar Ferri, Valdir Fraga, Vicente Dutra, Vieira da Cunha, Wilson Santos e Wilton Araújo. Constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Sessão de Instalação e das Primeira, Segunda e Terceira Sessões Extraordinárias, que foram aprovadas. À Mesa foram encaminhados: pelo Ver. Airto Ferronato, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Cyro Martini, 02 Pedidos de Providências; pelo Ver. Edi Morelli, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Ervino Besson, 05 Pedidos de Providências; pelo Ver. Leão de Medeiros, 01 Pedido de Providências; 01 Emenda, de n° 04, ao Substitutivo aposto ao Projeto de Lei Complementar do Legislativo n° 03/91; pela Verª. Letícia Arruda, 05 Pedidos de Providências; pelo Ver. Vicente Dutra, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Vieira da Cunha, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Wilson Santos, 01 Pedido de Providências. Do EXPEDIENTE constaram os Ofícios nºs 34, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50 e 51/91, do Sr. Prefeito Municipal; 01/90, da Comissão Especial constituída para examinar o Projeto de Resolução n° 39/90; 17/91, do Gabinete do Governador; 26/91, da Câmara Municipal de Goiânia; 70/91, do Serviço Público Federal. A seguir, o Sr. Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Martim Aranha Filho, em substituição ao Ver. Mano José, em Licença para Tratar de Interesses Particulares, e, informando que S.Exa. já prestou compromisso legal nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Saúde e Meio Ambiente. Em PAUTA, Discussão Preliminar, esteve, em 1ª Sessão, o Substitutivo n° 01 ao Projeto de Lei Complementar do Legislativo n° 03/91, discutido pelos Vereadores João Dib, Airto Ferronato e João Motta. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Omar Ferri comentou reportagem publicada no Jornal “Folha de São Paulo” do dia vinte e um do corrente, intitulada “Globo transforma Rock in Rio em telecatástrofe”, tecendo críticas ao referido evento e declarando possuir ele um “caráter colonialista” e extremamente “lesivo para a cultura musical do nosso País”. O Ver. Clóvis Ilgenfritz registrou o repúdio de sua Bancada à guerra atualmente realizada no Oriente Médio, atentando para as deformações verificadas nas notícias que são divulgadas pelos meios de comunicação brasileiros. Falou, ainda, sobre o Projeto de Lei Complementar do Legislativo n° 03/91. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente declarou encerrados os trabalhos às quinze horas e um minuto, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Extraordinária a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Airto Ferronato e secretariados pelos Vereadores Leão de Medeiros e Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Leão de Medeiros, 1° Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Passamos à

 

PAUTA – DISCUSSÃO PRELIMINAR

 

1ª SESSÃO

 

PROC. N° 0193/91 – SUBSTITUTIVO N° 01, de autoria do Ver. Isaac Ainhorn, ao PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO LEGISLATIVO Nº 003/91, de autoria do Ver. João Dib, que estabelece o reajustamento do IPTU para o exercício de 1991. Com Emendas n°s 01, 02 e 03.

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, esta Casa vive um momento de extrema importância. O Executivo Municipal nos jogou contra a população, dizendo que nós havíamos aprovado tudo aquilo que aí está em matéria de insatisfação da população com o Imposto Predial e Territorial Urbano de Porto Alegre. Nós já declaramos reiteradas vezes que não temos culpa e que o Orçamento que para nós foi encaminhado tinha um Decreto que estabelecia o valor do m2 de construção, e o qual era acrescido em relação ao ano anterior em 1.186%. Dizia também que o Orçamento deste ano em relação ao ano passado sofria um acréscimo de apenas 400%, e disse também que o IPTU não tem o sentido que a Administração Popular pretende dar como competente da Receita Municipal. Agora para cada um dos porto-alegrenses que tem que pagar passa a ser para alguns não a importância pesada, mas exorbitante. Mas para cada um, sem dúvida nenhuma, pesada. Há casos de mais de 10.000% de acréscimo sobre o valor do ano passado. Agora, a nossa responsabilidade é muito grande, nós não podemos fazer vir a esta Casa a população e prometer coisas que estão fora do nosso alcance. Nós temos que ter o cuidado de mostrar a dificuldade que estamos enfrentando para dialogar com o Executivo quando nós, com todas as letras, dissemos que não queremos o confronto; e a proposição que até nós chegou, hoje ao meio-dia, é extremamente tímida, não vai trazer à população a tranqüilidade que está sendo esperada. Tenho dito a todos que me telefonam e que me procuram que aguardem quinta-feira, porque esta Casa, por seus trinta e três Vereadores, está empenhada em buscar uma solução. Agora, se não encontrarmos a solução que se pretende, e que é possível, porque um Município como Torres já deu 25% de desconto a mais sobre o IPTU, que não subiu, em caso nenhum, a 10, 12, 15 ou 18.000%, como aconteceu em Porto Alegre. Então é possível. Mostrei que no passado o Dr. Telmo Thompson Flores, depois de emitidas as guias, determinou que o limite máximo de acréscimo fosse 12% em relação ao ano anterior. Então é possível, temos como fazer, agora, não escondo que já fiz uma ligação para a Pactum, empresa especialista em tributos, porque também dei minha contribuição dizendo da minha preocupação como engenheiro, é claro, mas como homem de bom senso entendo que a progressividade do IPTU é inconstitucional, aprovada ou não por esta Casa, qualquer cidadão porto-alegrense poderá buscar a inconstitucionalidade dessa lei. Porque é muito claro, segundo os juristas que tive a paciência de ler - e até consegui entender - que o valor venal não pode ser razão de aplicação da progressividade que a nossa lei está permitindo que aconteça. Isso depois da Constituição de 1988. Temos casos em que pessoas são duplamente penalizadas, penalizadas porque a Administração Popular estabeleceu novos critérios de fixação do valor venal, e que esta Casa não teve participação, e ao fixar novos valores houve troca de alíquotas. Então, alguém que estava pagando 0,4 está pagando 0,8, senão estiver pagando 1, 2, e isto segundo os juristas, e eu tenho trabalhos neste sentido, é inconstitucional. Isto acontece na cidade de Porto Alegre. Ou nós afastamos o confronto e buscamos a solução, ou então vamos para um confronto e a Administração Popular vai saber que não vai receber, não vai arrecadar como está pretendendo. Nós temos dito a todos que nos procuram: paguem depois do dia 25 porque nós vamos continuar discutindo. Agora, eu espero que este fraco aceno que nos veio da Bancada do PT, mas que é uma demonstração de boa vontade, possa ser aprimorado hoje na reunião que teremos com o Prefeito e o Secretário da Fazenda, e que a população se tranqüilize e não precise vir aqui fazer requerimentos e processos que não darão em coisa nenhuma. Então nós ajudaremos a formar uma corrente forte e violenta para derrubar o Imposto Predial e Territorial Urbano na forma em que ele foi colocado. Nós não queremos o confronto, mas se houver necessidade de confronto nós iremos a ele. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Senhores, a Mesa faz hoje um primeiro e último apelo: o Regimento Interno é claro quanto à manifestação das galerias. Nós vamos suspender as Sessões se houver a continuidade destas manifestações, não pelo dia de hoje, mas prevendo um bom clima nos momentos dos trabalhos no dia de amanhã. Acho que todos nós temos interesse numa solução, agora precisamos do auxílio dos Senhores para chegarmos a esta solução.

Pela ordem de inscrição, o Ver. Airto Ferronato.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, vou usar esse tempo para em primeiro lugar expor a Emenda n° 03, de minha autoria, ao parágrafo único do art. 1°. No parágrafo único do art. 1°, na redação original constou: aos proprietários de um único terreno com área de até 900 m2, ou que possuam mais um imóvel predial utilizado como moradia, se aplica o índice estabelecido no máximo do reajuste, ou seja 1.700. Pela Emenda nós estamos incluindo, dentro deste limite de 1.794% aos proprietários de um imóvel terreno e que possua mais uma casa utilizada como moradia. Isto, aliás, é o que consta na redação.

E além disto estamos propondo também que se limite em 1,794% aos proprietários de um único terreno só, ou seja, se um contribuinte de Porto Alegre não tenha residência, mas tenha um terreno e este terreno, evidentemente, ele vai utilizar como futura moradia, porque até o presente momento ele talvez não tenha tido a possibilidade de construir a sua casa. E então, se ele só for proprietário do terreno, que ele também tenha este benefício.

 

O Sr. Isaac Ainhorn: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu acho que esta Emenda apresentada por V. Exª é de todo procedente e entendo que, exatamente, ela atende aquela pessoa que tem o terreno e até hoje não pôde construir a sua casa própria. E o curioso é que este que tem o terreno e que não pode construir a sua casa própria - veja que situação curiosa que se defronta - ele paga o territorial, ele paga muito mais do que aquele que ao lado tem dinheiro e pode construir a sua mansão. É uma situação muito esdrúxula em termos de IPTU, mas é a realidade. Então, eu participo, pelo menos atende em parte aos interesses dessas pessoas que têm um único terreno e que não puderam construir a sua casa própria.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Sou grato pelo aparte de V. Exª e vou voltar aqui, hoje expor uma interpretação que tenho dado com relação ao reajuste concedido no IPTU. Com todo o respeito que me merecem, inclusive, as autoridades do Executivo que não entendem da mesma forma que eu tenho entendido.

Eu acredito que, de acordo com os reajustes concedidos na Planta de Valores genéricos, ou melhor, específicos, caso a caso, Ver. Isaac Ainhorn, a minha avaliação é a seguinte. A Lei de 1973 autoriza o Executivo a atualizar o valor dos imóveis. Então minha avaliação é a seguinte: se ele autoriza esta avaliação, o Executivo deve atualizar os valores pela correção monetária e, em caso de equívocos, no valor venal, ele poderia e pode atualizar além deste valor. Agora, vejam bem, apenas em casos de equívocos e isto não foi o que fez, como procedeu o Executivo. O Executivo concedeu reajustes genéricos aos contribuintes de Porto Alegre, numa grande maioria em valores acima da inflação, e eu entendo que estes valores, este reajuste, deveria ter sido concedido por lei e não via decreto, e muito menos, via relatório, que mostrei aqui ontem, a Planta de Valores.

Gostaria de dizer o seguinte: a Constituição Federal diz que nós só podemos instituir e aumentar tributos por lei. O que fez o Executivo? Aumentou por decreto. E mais, ele não acertou casos específicos. O meu ponto central é o seguinte, o Executivo atualizou muito além da inflação estes valores, e eu faço a seguinte pergunta: a Lei n° 7, que autoria estes reajustes é de 1973 - eu acredito que em 1973, talvez, o único Vereador na época, era o Ver. João Dib, não sei se confirma ou não -, será, Ver. João Dib, que os legisladores, os Vereadores de 1973 autorizaram o Executivo hoje, vinte anos depois, a aumentar tributos, impostos, IPTU, em valores de quase de 20.000% em alguns casos, sem nenhuma Lei? Eu não posso admitir que este fato tenha ocorrido, e mais, acredito que o espírito daquela Lei era de autorizar e é autorizar o Executivo a reajustar o valor pela correção monetária e, em casos especiais, equívocos matemáticos claros, atualizar estes equívocos, até para que não se cometa injustiça fiscal. Agora não aquela Lei, na minha visão, não tem por orientação, como é que nós poderíamos dizer, ela não tem como espírito fazer com que, hoje, o Executivo atualize 5.000, 3.000, 7.000% ou mais.

Portanto, a minha preocupação, e o que coloco aqui na tarde de hoje é o seguinte: eu tenho profundas dúvidas de que o reajuste concedido pelo Executivo seja inconstitucional. Por quê? Porque foram reajustes concedidos via decreto e via Planta de Valores, ou seja, um mero relatório. E o Legislativo, como afirmei ontem, não tem por função aprovar relatório. Ele, no máximo, pode olhar porque relatório do Executivo não se aprova, é algum ato do Executivo. Portanto, a minha avaliação a este respeito é esta nós devemos ter, em primeiro lugar, a preocupação de buscar um estudo cuidadoso a respeito dos critérios de reajustes adotados pelo Executivo e, a partir daí, buscar mais um estudo cuidadoso que é a competência do Legislativo em iniciar matérias financeiras. Obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Próximo orador é o Ver. João Motta.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, embora a reunião de negociação esteja marcada para às 16h30min, me parece que o conjunto das Bancadas já teve acesso a uma proposta inicial que foi apresentada para que se coloque um mínimo de referência nesta negociação e, para nós, uma vez que são claros os argumentos e as possibilidades, seria interessante que o conjunto das Bancadas já começasse, já se manifestasse, gostaria de usar como paradigma, aqui, a intervenção do Ver. João Dib, que já se manifestou previamente sobre a proposta inicial, achando, portanto, que a proposta é muito tímida, e, conseqüentemente, que há uma necessidade de se avançar mais. Creio que também, por outro lado, a posição do Ver. Airto Ferronato ficou explícita quando apresenta uma Emenda a um Projeto de Lei, não me lembro se ao primeiro ou ao Substitutivo, no sentido de, em decorrência disso negar a possibilidade de se fazer a negociação em cima dessa referência inicial apresentada pela Bancada do PT. Portanto, eu acho correto e necessário se fazer este debate aqui no Plenário, de uma forma mais aberta e mais franca, para que não transformemos a reunião das 16h30min num fórum, que poderia ser um momento de negociação, numa mera instância de discurso político e não cumpra, por via de conseqüência, uma instância onde as negociações poderiam avançar.

Portanto, estou em dúvida sobre que tipo de intervenção devo fazer neste momento. Nesta dúvida faço este apelo aos Srs. Vereadores e Lideranças de Bancada para que explicitem já um pouco aqui no Plenário qual a posição que pretendem assumir ou que posição as suas Bancadas estão discutindo, que é para, repito, não perdermos tempo no sentido de fazer com que o Sr. Prefeito se desloque da Prefeitura e o Secretário da Fazenda idem, para ouvirem discursos, ou da Bancada do PT ou de qualquer outra Bancada, defendendo suas visões, sem possibilidade de negociação, fazendo com que o sentido geral da posição dos Vereadores seja ainda em cima dos dois Projetos que foram apresentados. Já ficou claro, Ver. Dilamar Machado, que qualquer tipo de acordo ou de negociação em cima dos dois Projetos apresentados é impossível, a Bancada do PT não assume este canal e esta interlocução. Portanto faço um apelo, e já havia preparado um outro tipo de intervenção, para tentar aproximar um pouco mais a posição das Bancadas em cima da proposta que foi distribuída pela manhã, para que de fato tentemos reordenar um pouco a nossa intervenção nessa reunião das 16h30min, sob pena de essa reunião se transformar numa espécie de outro Plenário, apenas reduzido às Lideranças.

 

O Sr. Dilamar Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Posso garantir a V. Exª que, logo após o término deste Plenário, a Bancada do PDT se reúne e vai encaminhar ao Prefeito Tarso Genro, à Bancada do PT e às demais Bancadas uma proposta concreta, buscando colaborar com uma solução de um problema que é público, posso adiantar a V. Exª que, em alguns pontos, vamos sugerir mudanças no Projeto original alterando, por exemplo, a renda mensal de três salários para uma renda mais compatível com o momento, retirando alguns trâmites burocráticos, como, por exemplo, uma viúva instruir o pedido de isenção com certidão do Registro de Imóveis, são quatro cartórios, sendo dezenas, centenas de contribuintes buscando os cartórios, ficando difícil. Então, basta uma simples declaração, sob as penas da lei, de que é propriedade de um único imóvel; assalta-me, também, Ver. Motta, a seguinte situação, se formos privilegiar viúvas e aposentados, no bom sentido, me ocorre também que podemos privilegiar viúvos e aposentadas, porque são situações sociais claras. Uma viúva, pelo simples fato de ter perdido o marido, pode estar em melhor condição social e financeira do que um viúvo que perdeu a esposa que trabalhava com melhor salário.

Então, são alterações desse tipo, além de, talvez, o acréscimo de uma norma mais geral que venha auxiliar toda a massa de contribuintes, mas vamos dar uma resposta concreta, e ao entregá-la a V. Exª e ao Vice-Prefeito Tarso Genro, entregamos com o compromisso do PDT de buscar, junto a sua Bancada, e às demais, uma solução para o dia de amanhã.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Gostaria de sugerir à Mesa, presidida pelo Ver. Airto Ferronato, que suspendêssemos a Sessão antes do horário para possibilitar a que as Bancadas troquem esse tipo de informação, mais facilitado, sem a existência do Plenário, do que com o Plenário em andamento. Se a maioria decidir assim, poderíamos em uma hora e meia, tomar conhecimento do pensamento das outras Bancadas, para ocuparmos esse horário não apenas fazendo pronunciamentos, mas que preparássemos um pouco mais a discussão. É um apelo e uma sugestão à Mesa Diretora dos trabalhos. Era isso.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Para uma Comunicação de Liderança, com a palavra o Ver. Omar Ferri.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, vamos fazer uma pequena pausa nessas discussões do IPTU para proceder a uma manifestação com relação a uma notícia, saída no dia de ontem, 21 de janeiro de 1991, segunda-feira, na Folha de São Paulo. Este Vereador entende que, como brasileiro e cidadão deste País, não poderia deixar passar em brancas nuvens. A parte do jornal que estampa esta notícia diz respeito à televisão brasileira, e a chamada da matéria informa que “a Globo transforma ‘Rock in Rio’ em telecatástrofe”. Quando se fala em TV Globo tem que se falar em corrupção, em assalto aos dinheiros deste País, aos cofres nacionais, em milhões de dólares, já lemos dois livros publicados que nos informam das circunstâncias pelas quais este império se criou. Um chama-se: “A história secreta da Rede Globo”; outro, tem por título: “A Fundação Roberto Marinho”. Isso me chamou a atenção porque estão imbecilizando e fossilizando não apenas a educação, mas a mentalidade da juventude e dos estudantes brasileiros.

Inicia a reportagem dizendo: (Lê.)

“A grande questão do momento é: qual das duas catástrofes que assolam a humanidade - a guerra no Golfo Pérsico e o Rock in Rio - terão repercussões mais nefastas? Excluída a hipótese de alguém jogar uma bomba atômica no Oriente Médio, o Rock in Rio é mais perverso.

Para o Brasil, em todo caso, seus efeitos podem ser bem mais devastadores: espetáculo da indústria discográfica - onde a única coisa que não interessa é a música, como lembra o filme “As Aventuras de Ford Fairlane” -, o Rock in Rio atinge em cheio uma cultura já periclitante no que tem de mais rico, sua cultura musical. Por tabela, abala uma das raras instituições que ainda orgulhavam os brasileiros, a Rede Globo.

Há tempos, por exemplo, a Globo não faz outra coisa além de buzinar em seus telejornais todas as formidáveis mudanças por que o Maracanã passava para receber os roqueiros e seus fãs.”

É preciso entender que aquela linha artística melodiosa da música foi substituída onde o sentimento da arte e o sentimento musical já não existem mais. Esta é mais uma das nefastas ondas exportadas a partir dos Estados Unidos, que exportam não apenas bombas e aviões mortíferos, mas a pior e a mais nefasta música que o mundo conheceu. Esse tal de rock pedrada, rock paulada. (Lê o jornal Folha de São Paulo.)

“Olho por olho, dengue por dengue.” Um País pobre economicamente, corrompido moralmente, desacreditado politicamente, marginalizado intelectualmente, onde todos os tipos de vícios e doenças estão nos contaminando, e nós depois do Oriente Médio com o maior espetáculo da deterioração da raça e da civilização ocidental e cristã, festas e carnavais. Rocks de uma semana sem parar, aonde o que menos existe é música e o que mais existe é o barulho estridente de tambores e guitarras desafinadas. É isto que a Rede Globo com este abastardamento musical com terríveis influências vai aos poucos minando, contaminando a própria consciência artística nacional. As nossas músicas nós deixamos de lado; o samba que foi uma tradição de todo este País, uma tradição cultural, já não existe mais. Agora interessa o vício, o barulho, a música deteriorada de mau gosto. E me parece que este País está mais ou menos extasiado porque botaram em nossas cabeças que nós deveríamos gostar desses absurdos, construindo pela arte e pelo engenho da imbecilidade humana. Muito obrigado.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PT, Ver. Clovis Ilgenfritz.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, distinta platéia que hoje nos honra com sua presença. Nós aproveitamos esses cinco minutos de Liderança, por determinação da Bancada, para trazermos aqui, enquanto a Mesa e as Lideranças também estão tentando ver o encaminhamento do processo com relação ao IPTU, nós não poderíamos deixar, em nome do Partido dos Trabalhadores, de trazer aqui ao Plenário, registrar nesta Câmara, perante a imprensa aqui presente, a nossa profunda consternação e repúdio com relação à guerra que se estabeleceu no Oriente Médio. Nós queríamos deixar muito claro que, do nosso ponto de vista, a guerra que hoje está se realizando, ela está fora do alcance e da decisão da maioria das pessoas, se não da esmagadora maioria das pessoas que habitam este planeta. Chegou o momento das superestruturas mostrarem a sua verdadeira função no domínio das populações do Leste, do Oeste, do Norte e do Sul. Não é possível se admitir que um erro, porque pode ser considerado um erro a invasão do Kuwait pelo Iraque, justifique o fato de as Nações Unidas serem usadas para cometerem um outro erro muito maior, criminoso, contra a humanidade, não só contra os iraquianos, mas sim contra o povo de Israel que corre perigo, contra os países vizinhos e contra todos nós que estamos sofrendo as amarguras, a angústia da guerra que o Norte faz contra o Sul, que a civilização dita ocidental faz contra a civilização oriental. É uma guerra de domínio, não é uma guerra puramente pela questão do petróleo, ela vai muito além, põe em confronto filosofias, é o islamismo, é a visão cristã ocidental, as visões mais diferenciadas e a falta de respeito pelos milênios de cultura que hoje são colocadas de lado. Está sendo feita uma guerra, além de tudo, passa para nós ocidentais, para nós que vivemos na planície, mentiras, verdadeiras deturpações das verdades, das coisas como estariam realmente acontecendo. Dizia-me um amigo: “liga na rádio da Holanda que eles são um pouco mais honestos!” Mas, como quero que seja transmitida para o resto do mundo a verdade, e a verdade, na nossa cabeça, é que a guerra poderia ter sido evitada. Quero colocar isso porque acho que tenho obrigação de colocar, desta tribuna, o meu repúdio pela maneira como está sendo feita essa guerra, o processo de dominação que se impõe, hoje, ao Kuwait, ao Iraque e seus aliados, amanhã para tomar conta da Amazônia, como já estão fazendo, sem armas, mas com o poder econômico.

Então, as tais de superestruturas estão pairando sobre nós, e nós aqui, discutindo o IPTU, vendo como repartir melhor a nossa pobreza, como botar um pouquinho de dinheiro dos que têm um pouco mais para as vilas para poder atender uma situação de desgraça, de miséria que vigora neste País, graças as guerras, graças aos dominadores, graças aos colonizadores que são hoje representados, infelizmente, por decisões unilaterais da ONU. Nós estamos acostumados a ouvir e os senhores e as senhoras, os caros Vereadores, prestem atenção para ver quantas vezes os repórteres, dos mais diversos países, dizem assim: a ONU, comandada pelos Estados Unidos, tirou uma decisão unânime que a guerra poderia ser feita. Claro que os cinco ou seis votos contra nunca aparecem. Mas qual é a guerra que poderia ser feita, a de bombardeio? Mesmo que isto fosse verdade! Porque foi um jogo da ONU, a serviço dos americanos, a ONU pagou uma dívida que tinha e com isto ela passou para a vitrine e dá o comando. Mas, a rigor, o que a ONU decidiu, que teriam que retirar do Kuwait os invasores, e não definiu, em nenhum ponto, que deveriam ser bombardeados Bagdá e todas as cidades iraquianas.

Então, para terminar, Sr. Presidente, quero deixar aqui o nosso apelo para que todos nós nos unamos, pelo menos neste aspecto, para lutar contra a guerra, contra o extermínio, contra a exploração, contra o imperialismo, contra a segregação social, econômica, contra a segregação racial. Vamos lutar pela paz, vamos resolver os nossos problemas democraticamente, como estão sendo resolvidos aqui. Temos dificuldades para atender os reclamos populares, mas nós não estamos fazendo guerra, não estamos matando. Nós estamos propondo, exatamente, que se salve vidas, com o sacrifício de alguns? Possivelmente, mas para acabar com coisas piores que estão acontecendo no nosso País.

É o nosso ponto de vista, com respeito a todos os demais. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h01min.)

 

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